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Simpósio temático

01. A dinâmica imperial e a comunicação política no Antigo Regime do mundo português, séculos XVI-XIX

Carla Maria Carvalho de Almeida – Doutora

Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)

Márcio de Sousa Soares – Doutor

Universidade Federal Fluminense (UFF)

 

Nos últimos trinta anos a historiografia sobre a colonização portuguesa na América questionou o esquematismo dos estudos relativos ao período, caracterizado por uma abordagem maniqueísta que percebia a sociedade e a economia como produtos unilaterais da expansão mercantil europeia e, portanto, reféns dos desígnios de um Estado considerado Absolutista. Essapercepção, hoje igualmente reconhecida por aqueles que até recentemente tratavam o império português fundado na dicotomia metrópole versus colônia, constatou e constataem diversas pesquisas, que temos diante de nós uma sociedade complexa e dinâmica que não se deixa capturar por simplificações e anacronismos, outrora tão em voga. Está posto para o debate historiográfico o estudo das especificidadesdo ultramar português e a compreensão desse ultramar na encruzilhada dos distintos processos históricos da Europa, África, Ásia e do Novo Mundo, ultrapassando uma visão eurocêntrica e percebendo a dinâmica imperial como resultado das conexõesestabelecidas entre a antiga sociedade portuguesa e as conjunturas mundiais. O Antigo Regime português sem seu Império ultramarino seria incompreensível.

 

Essa nova perspectivavincula o Antigo Regime português à expansão ultramarina e colonial, sublinhando suas principais singularidades. Compreende que os negócios oceânicos conectavam a reprodução de diferentes estruturas sociais, modeladas pela cultura política da sociedade portuguesa nos Tempos Modernos, ao mesmo tempo em que busca explicitar a singularidade da escravidão na América e as dinâmicas sócio-econômicas por ela engendradas nas regiões situadas nos três continentes que integravam o império português.Propõe, para melhor compreendê-lo, a noção demonarquia pluricontinental, cuja dinâmica governativa apoiava-se fundamentalmente na negociação entre o centro e suas conquistas, não raro forjando um complexo equilíbrio entre as determinações régias e os usos e costumes da terra.

 

A ideia de linguagens partilhadas como meio de comunicação que contribuía para a estabilidade do império pode, inicialmente, ser percebida pela indagação de como seria possível, no Antigo Regime dos Trópicos, a interação entre diferentes segmentos sociais, como negociantes e nobreza da terra, entre senhores (reinóis ou nascidos nas conquistas) e escravos no mais das vezes vindos do continente africano? Que tipos de linguagem possibilitavam a comunicação entre grupos tão distintos? A estas perguntas, aparentemente tão simples, deve-se acrescentar que a atuação de escravos e libertos, uma vez aliados a seus senhores ou patronos, era imprescindível para a manutenção da primazia política na América portuguesa, já que cativos e forros armados tinham peso importante na força política dos bandos, facções da nobreza da terra. Por outro lado, o papel de negociantes de escravos era fundamental para a reprodução de uma sociedade escravista, o que significa dizer que a atuação do corpo mercantil contribuía para reordenar as relações de poder e as hierarquias sociais costumeiras.O estudo destas linguagens é fundamental caso se pretenda compreender tal império com os seus diferentes loci, povos e segmentos sociais, congregando interesses múltiplos, cambiantes no tempo e no espaço, quer de natureza política, cultural, econômica ou social. Logo, conflitos entre forças locais (conquistas/colônias) e centrais (coroa/reino), disputas entre facções no poder (bandos), demandas entre grupos sociais (comerciantes efidalgos, senhores e escravos), além detensões internas a cada dimensão aludida, poderiam tornar inelásticas as bases de funcionamento do império e de uma sociedade estamental, caso suas linguagens e formas de comunicação não propiciassem a atenuação de conflitos e embasassem a governabilidade portuguesa como um todo.

Com efeito, pretende-se ultrapassar a interpretação do império constituído por dicotomias como Metrópole versus Colônia e Senhores versus Escravos.

 

Ao invés de dualidades, na verdade, teríamos múltiplas cadeias de conflitos e de negociações que delineavam uma dinâmica política, social e econômica bastante complexa. Ou seja, multiplicidades de idiomas que interconectados entre si davam forma e movimento ao império português da época moderna.Este Simpósio pretende, portanto, oferecer um amplo espaço de reflexões sobre o estado da arte ao congregar historiadores cujas pesquisas envolvam múltiplos aspectos da dinâmica imperial no antigo regime português aprofundando o diálogo acadêmico já estabelecido entre os membros do Grupo de Pesquisa Antigo Regime nos Trópicos/CNPq e historiadores de diversas instituições nacionais e estrangeiras.

 

Palavras-chave: Império português; escravidão; antigo regime; comunicação política.

 

BIBLIOGRAFIA:

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FRAGOSO, J, SAMPAIO, Antônio Carlos Jucá, ALMEIDA, Carla M. Conquistadores e negociantes: histórias de elites no Antigo Regime nos trópicos. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.

MARCOCCI, Giuseppe. A consciência de um império: Portugal e o seu mundo (sécs. XV-XVII). Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2012.

MONTEIRO, Nuno Gonçalo; CARDIM, Pedro; CUNHA, Mafalda Soares da. OptimaPars: Elites Ibero-Americanas do Antigo Regime. Lisboa: ICS, 2005.

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