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Simpósio temático

03. Cultura e educação na América Colonial: iluminismos, instituições e culturas escritas

Thaís Nívia de Lima e Fonseca

Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

Ana Cristina Pereira Lage

Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri

 

O Simpósio visa a discussão de estudos que, abordem as relações entre instrução, cultura escrita e as práticas culturais e educativas como mediadoras de sociabilidades na América Colonial, em um longo século XVIII, que abrange os fins do século anterior e o início do século seguinte. Assim, interessa perceber e discutir as relações entre instrução e educação na formação dos quadros administrativos, incluindo-se o âmbito religioso, bem como as relações entre atividades econômicas, formação profissional e projetos educacionais desenvolvidos em Portugal ou Espanha e que alcançaram seus domínios ultramarinos, particularmente a América. Também interessam temas que abordem o estudo das instituições e de seus componentes em um mundo supostamente ilustrado, assim como as relações entre cultura escrita e Ilustração.

 

A educação não acontece somente na escola, mesmo considerando-se que ela passou a ser vista, sobretudo a partir do século XIX, como um ambiente educativo necessário para a integração do individuo à sociedade. No período histórico focalizado neste simpósio, os processos educativos não eram vistos como exclusivos das instituições escolares e tinham, na verdade, maior dinamismo e visibilidade fora delas. A existência dessas instituições no mundo americano do longo século XVIII devia-se às iniciativas da Igreja e do Estado, estando, contudo, limitadas em sua abrangência territorial como também em sua atuação e relevância do ponto de vista da sociedade da época. Isso não significa que a educação em si não fosse valorizada, mas ela não era vista como algo possível apenas se houvesse escolas disponíveis. Tal fato relaciona-se às concepções acerca da educação então correntes, e que vinham de uma tradição intelectual e politico-administrativa que a entendia como um conjunto de ações voltadas para a formação do súdito cristão, e que poderiam ser encontradas em diferentes dimensões da vida social.

 

Diante da imprecisão das abordagens abrangentes e da excessiva fragmentação dos estudos de casos pontuais acerca do Iluminismo, uma alternativa pode vir do estabelecimento de grupos de análises: constelações de ideias e problemas convergentes, unidades geográficas, perspectivas geracionais de intelectuais.  Aos autores do século XVIII incitam ideias mobilizadoras como a de república ou progresso e, ao lado destes, alguns filósofos apontam para a necessidade de mudanças em outras áreas da sociedade. Seria possível identificar as tensões nas Luzes espalhadas na América Colonial, assentada nas dispersões geográficas e às necessidades locais, além dos seus reflexos no universo educacional.

 

A cultura escrita e a cultura do escrito são temas que vem ocupando a atenção de historiadores, sobretudo em relação às questões da alfabetização e história da leitura. O termo “cultura escrita” implica potencialidades analíticas consideráveis, uma vez que pode evidenciar uma condição da cultura, a de estar escrita, ou uma qualidade da cultura caracterizada pela escrita, compreensão que é mais comum. Ao se pensar a cultura do escrito quer-se evidenciar a dimensão de difusão de um conhecimento especializado (a escrita) como parte de uma cultura, de um processo de cultivo. A cultura do escrito pressupõe o que já não há mais, o acontecimento passado representado pelo escrito, a memória rememorada pelo “culto” ao passado e ao próprio escrito. Tal dimensão de culto que se revela não apenas na valoração dos escritos sagrados, mas também no reconhecimento dos livros como substrato do saber e objetos de distinção social atrelados aos letrados, aos sacerdotes, aos detentores de um saber especializado. Busca-se mapear os elementos de racionalidade do escrito presentes no processo de comunicação, sua intencionalidade, ordem, cientificidade, técnica, profissionalidade, organicidade, argumentação, etc. Outra questão está relacionada à historicidade do escrito, uma vez que busca-se a escrita como representação, organizada em sistemas e modalidades distintas de registro. Procura-se ainda os usos e práticas da escrita, e os modos como a circulação da palavra impressa e manuscrita transformou os modos de interação social, as sociabilidades e as práticas educativas.

 

Palavras-chave: Educação; iluminismos; instituições; culturas escritas.

 

Referências:

ARAÚJO, Ana Cristina. A cultura das Luzes em Portugal: temas e problemas. Lisboa: Livros Horizonte, 2003

BOTO, Carlota. A escola do homem novo. Entre o iluminismo e a Revolução Francesa. São Paulo: UNESP, 1996

CHARTIER, Roger. Culture écrite et societé, l’ordre des livres (XIVe - XVIIIe siècle). Paris: Éditions Albin Michel, 1996

VOLVELLE, Michel. O Homem do iluminismo. Lisboa: Presença, 1997

FONSECA, Thais Nívia de Lima e (org). As reformas pombalinas no Brasil. Belo Horizonte: Mazza, FAPEMIG, 2011.

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