Simpósio temático
11. Relações de poder, redes sociais e circulação no tempo dos Felipes (1580-1640)
Prof. Dr. Rodrigo Bonciani
Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA)
Prof. Dra. Ana Hutz
Universidade de São Paulo (USP)
Se a chegada de Colombo às Américas foi um dos eventos inaugurais da modernidade e da história global, o período que vai de 1580 a 1640 foi decisivo para a configuração das relações e das tensões sociais, culturais e de poder em diferentes espaços e conexões mundiais. A importância desse período suscitou reflexões em diferentes campos da história, da ideia de formação da economia-mundo às perspectivas da micro-história e da história social.
Por muito tempo o estudo da relação entre Portugal, Espanha e seus domínios no período da União Ibérica, foi relegado a segundo plano. Ao final do século XIX e início do século XX, a historiografia portuguesa consagrou uma visão acerca da perda de autonomia de Portugal e a sua submissão à Coroa espanhola, sempre retratada de maneira tirânica. Os estudos sobre a América portuguesa nesse mesmo período, seja pela herança dessa visão pessimista acerca do período, seja pela dificuldade em se trabalhar com as fontes documentais, eram escassos. Nas últimas décadas, contudo, o assunto vem sendo estudado de maneira mais sistemática. Entre as novas abordagens, salientam-se aquelas que procuram estudar as conexões dos diversos espaços do mundo ibérico que ficaram unidos a partir da união das Coroas.
Um dos debates trata da maneira como Portugal foi incorporado à Monarquia Católica. Essa historiografia se inscreveu nos quadros da história política e esmiuçou uma nova caracterização da autoridade régia no início da época Moderna.
Além disso, tem se aprofundado o conhecimento das instituições da monarquia, tanto do lado Habsburgo como do lado português. A incorporação das terras ultramarinas amplificou esse desafio do domínio político.Os novos contextos sociais, políticos e econômicos, tornaramnecessáriosa criação de novas instituições, de formas de comunicação e de representação do poder real.
As novas forças sociais que emergiram nos domínios coloniais desenvolveram estratégias de negociação e de reconhecimento de seu estatuto social e estabeleceram conexões com outros espaços ultramarinos se projetando sobre as próprias instituições da Monarquia. Outros estudos, ainda, tem procurado jogar luz sobre a relação entre essas mesmas instituições e seus agentes com as sociedades africanas, ameríndias e asiáticas.
Em outra perspectiva surgiram trabalhos com enfoque na dimensão econômica do período. Nesse sentido, os estudos sobre as redes de comércio é fundamental, porque trata do modus operandi do capitalismo comercial. Essa forma de comércio ultrapassava as fronteiras dos Estados ainda em formação, pois operava em uma escala global.
Outros trabalhos ainda ligam-se aos temas da religiosidade, da missionação e das instituições religiosas, em particular da Inquisição.
Os organizadores desse simpósio têm trabalhado no grupo de pesquisa do CNPq intitulado “A Monarquia Hispânica e o império dos Felipes (1580-1640)” justamente com o intuito de contribuir e amplificar o debate sobre o período.Pretendemos com esse simpósio alargar ainda mais esse debate, congregando historiadores que tem se dedicado a estudar essas novas conexões entre a América portuguesa, América espanhola, Portugal, Espanha, África e Ásia.
Palavras-chave: Monarquia hispânica, Império ultramarino, relações de poder, redes.
Bibliografia
CURTO, Diogo Ramada. Cultura politica no tempo dos Filipes.Lisboa: Edições 70, 2011.
GRUZINSKI, Serge. As quatro partes do mundo.História de uma Mundialização. São Paulo: Edusp/UMFG, 2014.
MEGIANI, Ana Paula Torres, SANTOS PEREZ, José Manuel, et al., O Brasil da Monarquia Hispânica (1580-1668). Novas interpretações. São Paulo: Humanitas, 2014.
MARTÍNEZ MILLÁN, José, Instituciones y elites de poder en la monarquía hispana durante el siglo XVI. Madrid: Ediciones de la Universidad Autónoma de Madrid, 1992.
VALLADARES, Rafael, La conquista de Lisboa : violencia militar y comunidad política en Portugal, 1578-1583. Madrid: Marcial Pons, 2008.