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Simpósio temático

16. Os espaços coloniais como problema de pesquisa: cartografias, sistemas geográficos e novas metodologias

Prof.ª Dra Beatriz Piccolotto Siqueira Bueno

Universidade de São Paulo (USP)

Prof. Dr. Tiago Luís Gil

Universidade de Brasília (UnB)

 

A historiografia da época colonial cresceu muito nas últimas décadas. Cresceu em número, mas também em diversidade de abordagens, modelos explicativos e perspectivas de trabalho. Este mesmo cenário também tem seus temas polêmicos, alguns novos, outros antigos. Dentro da enorme quantidade de questões, destacaríamos algumas que nos parecem bastante palpitantes: a governança local e sua relação com os poderes centrais, as hierarquias sociais e os mercados coloniais, internos e externos. Contudo, será proveitoso discutir a conquista e o governo dos povos sem pensar a sua relação com o espaço? Éconvenientediscutir as hierarquias sociais sem perceber seu impacto territorial? E como avaliar os mercados sem dar conta de seus aspectos geográficos? Muitas destas questões passam pelos estudos de casos regionais e locais, que permitem diferentes jogos de escala, não apenas de análise da sociedade, como anda em voga, mas igualmente aquela que a geografia nos aporta.

Ainda que seja óbvia a importância da geografia e da cartografia no estudo dos processos de ocupação, este não é o único campo possível. Outros temas clássicos podem se servir destas irmãs, acrescentando novas variáveis aos nossos problemas. Certamente é o caso dos estudos de história agrária, que vêm crescendo recentemente. Os temas ligados à política, como governança local e suas relações com os poderes do centro, tem sido um objeto muito frequente na última década. É surpreendente, contudo, como a dimensão espacial foi pouco explorada por estas investigações inovadoras. Se for correto que as disputas políticas passavam por elementos simbólicos e os conflitos geralmente se davam dentro da mesma vila (entre Capitão-mor, governador e Câmara, por exemplo), não é possível ignorar que as jurisdições (como área territorial) eram frequentemente disputadas.Da mesma maneira, instituições aparentemente semelhantes como as Câmaras eram profundamente diferentes na sua área de atuação.

Também os estudos de história econômica na América Portuguesa tiveram grande destaque nos últimos 20 anos, com pesquisas sobre diversas atividades produtivas e comerciais fora do espectro da plantation, e mesmo esta última foi continuamente reavaliada. Temas como o crédito, a produção de alimentos, a pesca da baleia, do anil, a pecuária e os mercados locais foram objeto de diversas pesquisas. Estes movimentos econômicos, de acordo com os mesmos trabalhos, tinham diversas dinâmicas no espaço, mas o uso de análises espaciais e de cartografia (mesmo demonstrativa) é bastante limitado, na maioria das vezes, utilizando um mapa com escala nacional e poucos detalhes, apenas para situar o leitor no mundo.

O esforço pela recuperação do debate entre história e geografia vem crescendo nos últimos anos. Diversas iniciativas paralelas têm tido lugar na produção historiográfica que tem a história colonial como foco. São trabalhos que souberam aproveitar métodos e informações da velha historiografia tradicional, sem perder de vista problemas de pesquisa de grande profundidade. Ainda é cedo para detectar uma nova “safra” de estudos que envolvem a elaboração cartográfica de informações históricas, como produto de investigações e como elementos de análise e demonstração de hipóteses, diferente, por exemplo, dos estudos dos mapas e dos cartógrafos, como aqueles que faziaJaime Cortesão.

Uma nova geração de historiadores das vilas e cidades tem sido visível, com estudos que enfatizam a materialidade do espaço urbano, principalmente analisando épocas mais recuadas. Essas dissertações, teses e artigos utilizam, por exemplo, livros de impostos prediais – as Décimas urbanas – como fontes para a espacialização das moradias citadinas assim como valem-sedosdocumentos cartoriais e mapas para compreender o processo de urbanização. Esses pesquisadores vinculados, principalmente, a área da arquitetura e urbanismo vem remodelando a temática e a própria área de pesquisa lançando novos olhares que somente são possíveis quando a fonte é especializada. 

A proposta desta mesa é reunir os diversos trabalhos que enfatizam o espaço como problema de pesquisa e as metodologias utilizadas para estes estudos. Já há uma dezena de anos que estas iniciativas vêm amadurecendo e diversos historiadores tem buscado os chamados “Sistemas de Informação Geográfica” para incrementar seus trabalhos, muitas vezes, contudo, isolados pela falta de diálogo entre aqueles que se valem destes recursos. O objetivo desta mesa é reduzir esta distância, aproximando as pesquisas e fazendo dialogar as dezenas de trabalhos que já utilizam estes caminhos.

Nota: por estimativa (pessimista), já teríamos pelo menos 18 trabalhos previstos para esta mesa, incluindo mestrandos, doutorandos e pesquisadores de quatro diferentes países.

 

 

Bibliografia:

BUENO, Beatriz Piccolotto Siqueira. “Desenhando o Brasil: o saber cartográfico dos cosmógrafos e engenheiros militares da Colônia e do Império.” In Roteiro prático de cartografia: da América Portuguesa ao Brasil Império, por Antônio Gilberto COSTA. Belo Horizonte: EdUFMG, 2007.

FONSECA, Cláudia Damasceno. Arraiais e Vilas D’El Rei: espaço e poder nas Minas setecentistas. Traduzido por Maria Juliana Cambogi TEIXEIRA. Belo Horizonte: Universidade Federal de Minas Gerais, 2011.

REIS Filho, Nestor Goulart. Contribuição ao estudo da evolução urbana do Brasil: (1500-1720). São Paulo: Pioneira, 1968.

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